Politique et rituel – Le rôle de la photographie dans la construction du Mouvement Sans-Terre

(versão em português aqui)

Le Mouvement des Travailleurs Ruraux Sans Terre (MST) est le plus important mouvement social pour la réforme agraire au Brésil. Né il y a 20 ans dans le Sud du pays, il a développé des modalités d´action extrêmement originales, la plus connue étant l´occupation des proprétés rurales non-productives: des familles organisées invahissent la terre, s´y instalent et y travaillent en vue d´obtenir du gouvermenent l´expropriation et la distribution. Le Mouvement Sans-Terre n´a pas créé les occupations, mais il les a systématisées, les a propagé dans le pays et les a  consacrées en tant que forme de pression  efficace pour la RA; il a aussi dévéloppé des stratégies et de procédures spécifiques aux occupations et a créé toute une technologie, des méthodes d´organization et de foncionnement très efficaces pour la constitution des campements. Continuar lendo

Fotografia e identidade

Não pretendo tomar  o termo identidade como uma “propriedade” de indivíduos ou de coletividades, como algo imutável e destinado a ser preservado, inclusive por meio da fotografia. Partirei da fotografia, mais particularmente do retrato – gênero fotográfico que mais diretamente lida ou “tematiza” a identidade – não para considerá-la como modalidade de registro capaz de “consagrar” e de “eternizar”  a identidade mas, ao contrário, como o que pode pode por à prova tal função. A fotografia  será analisada como  prática estética que propicia situações de tensão,  ou que põe em cheque essa noção aparentemente  irrefutável de identidade. Partirei de  um tema específico , os índios, que costumam ser situados no campo das identidades  “inquestionáveis”.  Continuar lendo

Política e rito: o papel da fotografia na construção do MST

(versão em francês aqui)

Maior movimento social pela reforma agrária do Brasil, o MST surgiu no Rio Grande do Sul há vinte anos. Ele desenvolveu ações extremamente originais, sendo a mais conhecida a ocupação de propriedades rurais improdutivas. O MST não inventou as ocupações, mas sistematizou-as e as estendeu por todo o país, consagrando-as como a forma de pressão mais eficaz pela reforma agrária; ele desenvolveu estratégias e procedimentos específicos para as ocupações, criou uma tecnologia, métodos de organização e funcionamento eficazes para a constituição dos acampamentos. A fotografia tem um papel decisivo na construção do MST: ela não apenas documentou suas ações e contribuiu para a criação de seus mitos, mas foi fonte de inspiração para algumas de suas estratégias políticas mais peculiares. É desta atuação da fotografia na dinâmica política do MST que pretendo tratar. Continuar lendo

O último círculo

Mil anos de guerras, mil anos de festas! São os meus votos para os Yanomami. Será uma esperança morta? Temo que sim. Eles são os últimos encurralados. Uma sombra mortal avança de todos os lados… E depois? Talvez nos sintamos melhor depois, uma vez rompido o último círculo desta liberdade derradeira. Quem sabe poderemos dormir sem despertar nenhuma vez… Qualquer dia haverá perto do chabuno torres de poços de petróleo, no flanco das colinas valas de garimpeiros de diamantes, policiais nas entradas e lojas nas margens dos rios… Por toda parte, a harmonia…

Pierre Clastres

“Le Dernier cercle”, Le temps modernes n. 298, 1971. Continuar lendo

O devir imagem das palavras

Sobre o trabalho “Sem título (O restaurador)”, de Rosângela Rennó

(Esse texto sobre o trabalho Sem título (O restaurador), da série Arquivo Universal  de Rosângela Rennó foi publicado em Obras Comentadas da Coleção do Museu de Arte Moderna de São Paulo, São Paulo, 2007. No original, por engano, a obra mencionada foi A Bibliotheca. Fica feita a correção; algumas precisões foram acrescentadas ao texto para maior clareza quanto à obra escolhida.

Arquivo Universal é um arquivo virtual constituído por textos que a artista coleta de jornais desde 1992, histórias comuns que têm por tema gente e a fotografia. Depois de lapidados, os nomes, lugares e datas são eliminados desses pequenos relatos, para serem integrados a um arquivo que não é de imagens, mas de “imagens escritas”.) Continuar lendo

Nas asas do tempo

Estas aparições da cidade, estes vestígios deixados pelo homem, ou mesmo a casual presença humana têm a qualidade de tornar remoto o presente que aqui mesmo se elabora. Marcas deixadas nos muros ou no céu, sombras, vultos fugidios, pequenos gestos ou objetos do cotidiano. Tudo compõe um inventário atual que, no entanto, tomado pelo fotógrafo, parece já refugiar-se como peça arqueológica num passado longínquo, num tempo instantâneamente revoluto. Como nas palavras estampadas num canto de muro, tudo aqui tem raízes e se aprofunda na matéria, que testemunha o fluir do tempo em sua própria permanência. Continuar lendo

Fotografo-archeologo

Il fotografo percorre La cittá come um archeologo. Conscienziosamente, raccoglie i segni che Il tempo elabora, istituendo categorie proprie di registro. Forme, colori, tessiture si staccano dagli oggetti e sorgono como vestigia che si imprimono nella superficie urbana. Anche i rari personaggi, cosi come le figure indistinte, le ombre e i riflessi non ci rimettono e sono modellati, come orme, dalla matéria. Colto come parte di un tutto ancora attuale, Il frammento sorge come reliquia di un tempo rimestato.

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Ocupação

As fotografias de Regina Stella num assentamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) propiciam uma visão até hoje inédita desse movimento político que, nos últimos vinte anos, tem adotado a ocupação de grandes propriedades rurais tanto como meio de aceder à terra, quanto de pressionar o estado brasileiro para a realização da reforma agrária. Desde que as ocupações de propriedades pelo MST se espalharam por todo o país, e que suas intervenções passaram a mobilizar os meios de comunicação, a imagem desta população abrigada sob barracos de lona, ou caminhando pelas estradas e cidades, ganhou destaque e se tornou o registro mais difundido dos homens, mulheres e crianças que se insurgem contra a distribuição injusta da terra no país. Continuar lendo

Cavalos no ar

Meu tema é o instante? Meu tema de vida. Procura estar a par dele, divido-me milhares de vezes em tantas vezes quanto os instantes que decorrem, fragmentária que sou e precários os momentos – só me comprometo com a vida que nasça com o  tempo e com ele cresça: só no tempo há espaço para mim.                                                    Clarice Lispector

                                          

And this is artificial moonlight

An artificial sky

Horses in the air                                     

Feet on the ground

Never seen

This picture before

Philip Glass (do disco The photographer, da peça com o mesmo título, montada no  Holland Festival, 1982).

 

Para Muybridge, gentleman e fotógrafo, os cavalos voam

Entre uma pisada e outra, elevam suas patas no ar e flutuam.

Por um tempo ínfimo, imperceptível aos olhos humanos, eles voam.

A partir de 1872, o reconhecido fotógrafo de paisagens Edward Muybridge

Dedica sua vida ao estudo dos seres humanos e dos animais em movimento.

É a imagem invisível nesse movimento que ele busca fixar.

Com que olhos terá Muybridge entrevisto o vôo dos cavalos?

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Passo a passo

Este texto foi escrito por ocasião da campanha eleitoral para a escolha do candidato à Presidência da República pelo Colégio Eleitoral em l984, campanha que opôs Tancredo Neves e Paulo Maluf.

Já despontam aqui dois procedimentos que irão marcar a produção posterior: uma leitura política da imagem fotográfica, e a consideração da fotografia como parte de um “dispositivo” – dispositivo constituído aqui pela combinação altamente potencializadora entre elementos da própria foto e da página do jornal. Continuar lendo