Leila Reinert

Texto publicado no folder da exposição “ Quando o cotovelo vira coração, poderá a dor dar?” de Leila Reinert.

Diante do título da exposição, o espectador também se faz uma pergunta. Pois o jogo fonético com as palavras “dor” e “dará”m a sugestão de um deslocamento (cotovelo coração) que evoca, ainda, a metafórica  “dor de cotovelo”, e até mesmo a dúvida na forma da pergunta (ou seria uma ironia?) – tudo isso faz pensar que um fantasma ronda a sala. Ele parece, com efeito, espreitar os nus femininos – o nu, ou melhor, o desnudamento feminino não foi um dos móveis de seu trabalho? – que, com o brilho da luz espalhado na região do sexo em formas impossíveis de identificar, ainda parece deixar no ar uma longínqua sugestão de androginia – ou seria uma cópula com a luz? Nos objetos sobre o chão, a presença do vidro associado ao corpo faz crescerem ainda mais as suspeitas. Será que se trata de uma evocação da obra de Marcel Duchamp – pois é bem este o fantasma que aqui assombra – por meio do mesmo material utilizado na composição de La mariée mise à nu par sés célibataires, Même, ou, Le grand verre (1915-23), justamente aquela em que o autor, numa intensas invocação da figura feminina, rompe com toda a convenção artística do passado? Continuar lendo