Texto publicado no livro Ensaios no real – O documentário brasileiro hoje. Migliorin, C. Org. Azougue Editorial, Rio de Janeiro, 2010.
Anotações sobre a entrevista: de Gláuber Rocha ao documentário brasileiro recente.
1.
Lá pelo final dos anos 80, o colunista José Simão, da Folha de São Paulo, cunhou a expressão “Perguntar não ofende”, reiterada quando trazia à baila algum acontecimento da atualidade – em geral de cunho político – para introduzir uma pergunta pretensamente inocente, com a função de expor a má fé de sua versão “oficial” . Com a malícia que costuma ser dom dos humoristas, ele percebeu que essa capacidade de dar a entender, sem afirmar, fazia da pergunta o instrumento ideal para por em evidência o que não podia ou não estava sendo dito com todas as letras. Além dessa falsa candura, que acabava revelando a desfaçatez com que se pode mentir, a pergunta do crítico ainda tornava patente um fenômeno na época pouco discernido, mas que não parou, desde então, de se acentuar: o “entorpecimento” da linguagem, uma espécie de “indiferença” muito característica do nosso tempo, que permite a circulação, sem entraves, pelo discurso, das mais descaradas mentiras – como se elas estivessem praticamente “fadadas” à aceitação pública. Continuar lendo