Imagens do horror / Horror das imagens

O 11 de setembro e a estratégia das imagens

Publicado na revista Margem, do Programa de Estudos Pós Graduados em Ciências Sociais e História da PUC-SP. Número sobre o tema “Guerra e paz”. N. 14, dez de 2001. Publicado em versão resumida no Caderno Mais! Folha de São Paulo , 4-11-01.

 Se as imagens foram um componente fundamental dos atos de terrorismo de 11 de setembro, se, tanto quanto os aviões, elas constituíram uma arma decisiva nas estratégias dos idealizadores da ação, contribuindo também para a disseminação do horror, no campo oposto, a convicção de que elas seriam capazes de disseminar a força do inimigo acabou gerando um horror das imagens que deu lugar, por sua vez, a uma política de rigoroso controle sobre a sua produção e circulação. Primeiro as fotos das vítimas dos ataques terroristas foram banidas dos jornais e da televisão; em seguida tornou-se também impossível mostrar as vítimas dos bombardeios no Afeganistão; quando Bin Laden surgiu na TV Al Jazeera, as imagens geradas fora da esfera de controle americano passaram a ser barradas, cerco mais fechado ainda com a compra, pelo exército americano, dos direitos exclusivos sobre as imagens comerciais feitas por satélites no território afegão. Continuar lendo

Mídia, política e intimidade: permutas entre a esfera pública e a imagem na era Collor

Trabalho desenvolvido a partir de uma palestra oferecida no quadro do seminário “Contemporary Brazil” no Saint Anthony´s College, Oxford, 1993. Uma primeira versão foi publicada na revista Cruzeiro Semiótico, n. 18-19, jan-jul. 1993 Porto. A segunda versão foi publicada no livro O Brasil não é mais aquele – Mudanças sociais após a redemocratização. D´Incao,M.A. ORG. Editora Cortez, São Paulo, 2001.

 

Quando se pensa nas transformações políticas, sociais e culturais que o Brasil experimentou nos últimos anos do século XX,  é geralmente unânime o reconhecimento da responsabilidade que cabe aos meios de comunicação – e sobretudo à televisão – pela nova face que o país passa a apresentar e até mesmo pelo modo como ele se vê ou se reconhece, num mundo cada vez mais submetido ao domínio das imagens. Continuar lendo

Imagens de conflito

O 11 de setembro, os Reality shows  e as estratégias de mobilização pela imagem[1]

Palestra apresentada nas Conferências Internacionais de Documentário, por ocasião do 7º Festival “É tudo verdade”, São Paulo, 2002. Título da mesa redonda: “Imagens de Conflito e suas Representações”, com a participação de Maria Dora Mourão (profa. De cinema do Depto de Cinema, Rádio e TV – ECA-USP, Bill Nichols (Prof. De Cinema, Rochester University, EUA, Esther Hamburger (Prof. De Cinema do Depto de Cinema, Rádio e Tv, ECA/USP e Stella Senra (ensaísta e pesquisadora de cinema). Publicado na  revista Novos Estudos CEBRAP, n. 64, novembro de 2002. São Paulo.

No filme de “Elogio do amor”, de Jean-Luc Godard, um personagem diz, num dado momento, a respeito do documentário: nunca soube bem o que é isto. A interrogação tem, de fato, atravessado a história desta modalidade cinematográfica, sempre assombrada por uma promessa de verdade que, se por um lado lhe impôs limites, fez ao mesmo tempo dela um campo rico de discussões e experimentos, que têm contribuído para impulsionar o entendimento da imagem. Esta promessa, de resto, sempre rondou as imagens em movimento, donde a atribuição a elas, como um legado “natural”, de qualidades como a autenticidade, a transparência, a fidelidade que, embora já deslocados do foco principal dos estudos da imagem, são ainda decisivas para a construção do ideário da informação. Se o documentário foi visitado por tal sorte de compromisso com a verdade, diferentemente, no entanto, da informação jornalística, que nunca pôs em questão suas premissas, ele inaugurou uma profícua discussão sobre este regime de imagens, que tanto lhe permitiu reivindicar a legitimidade das suas imagens, a acreditar na sua plenitude, quanto o tem levado a pôr sua inocência em questão, a trabalhar a tensão entre imagem e realidade, ou a testar novas dinâmicas na articulação entre sons e imagens. Continuar lendo