Sara Ramo, ou o exercício da liberdade.

O mundo de Sara é um mundo de coisas: panelas, vidros e potes de creme, xícaras, camas, vasos de plantas, bacias de plástico; ou estatuetas de bichos, escorregadores, pedras, objetos descartados, cadeiras, poltronas de teatro. São coisas banais, com as quais convivemos no nosso dia-a-dia e nas quais já nem prestamos mais atenção. Sara as desloca de seus lugares, agrupa, dispersa; às vezes faz delas um uso inusitado, ou então se limita a isolá-las, apontá-las. São gestos corriqueiros, que fazem parte de nosso repertório cotidiano de movimentos por meio dos quais agimos… Aqui, a dúvida se introduz. Será que “agimos” mesmo sobre as coisas? Ou seríamos, ao contrário, “agidos” por elas? Como dar continuidade à frase? É nesta pergunta, no intervalo aberto por esta interrogação que se insere o trabalho de Sara. Como é possível “agir” sobre o mundo? A liberdade não seria, justamente, a condição primeira para tal ação? Mas não seríamos nós seres de hábito, repetindo sempre os mesmos gestos, obedecendo sem cessar aos mesmos comandos – limitados e por demais empobrecidos para ver além do que nos é dado a ver? Continuar lendo