Cavalos no ar

Meu tema é o instante? Meu tema de vida. Procura estar a par dele, divido-me milhares de vezes em tantas vezes quanto os instantes que decorrem, fragmentária que sou e precários os momentos – só me comprometo com a vida que nasça com o  tempo e com ele cresça: só no tempo há espaço para mim.                                                    Clarice Lispector

                                          

And this is artificial moonlight

An artificial sky

Horses in the air                                     

Feet on the ground

Never seen

This picture before

Philip Glass (do disco The photographer, da peça com o mesmo título, montada no  Holland Festival, 1982).

 

Para Muybridge, gentleman e fotógrafo, os cavalos voam

Entre uma pisada e outra, elevam suas patas no ar e flutuam.

Por um tempo ínfimo, imperceptível aos olhos humanos, eles voam.

A partir de 1872, o reconhecido fotógrafo de paisagens Edward Muybridge

Dedica sua vida ao estudo dos seres humanos e dos animais em movimento.

É a imagem invisível nesse movimento que ele busca fixar.

Com que olhos terá Muybridge entrevisto o vôo dos cavalos?

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A modelo e o papa

As imagens são, ao mesmo tempo, o lugar da verdade e da mentira, da realidade e da ficção, da objetivação e da encenação. Por isto a simulação, tanto no sentido corriqueiro do termo (fingir o que não se é), quanto na sua acepção militar (fingir o que poderá vir a ser ou que será) nelas se funda e delas procura tirar o maior partido. Curiosamente quando as técnicas de captação, de distribuição e de acesso à imagem se tornam instantâneas (isto é, quando todos podem tudo captar e tudo ver o tempo todo) mais cresce a dúvida sobre o que é visto; e, por conseqüência, maior passa a ser a margem da simulação.  Continuar lendo

Passo a passo

Este texto foi escrito por ocasião da campanha eleitoral para a escolha do candidato à Presidência da República pelo Colégio Eleitoral em l984, campanha que opôs Tancredo Neves e Paulo Maluf.

Já despontam aqui dois procedimentos que irão marcar a produção posterior: uma leitura política da imagem fotográfica, e a consideração da fotografia como parte de um “dispositivo” – dispositivo constituído aqui pela combinação altamente potencializadora entre elementos da própria foto e da página do jornal. Continuar lendo